1. |
Tudo que tenho a dizer
05:12
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Tudo que tenho a dizer
O que vou lhe dizer
Pode incomodar
Bulir, aborrecer
Ou mesmo horrorizar
O que eu vou falar
Não posso prometer
Que vai lhe ajudar
Que vai lhe comover
O que vou sussurrar
Não posso soletrar
Não posso oprimir
O que vou lhe contar
Não posso prevenir
Prever, antecipar
Não posso traduzir
Muito menos abortar
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O que vou lhe gritar
Pode ferir, cortar
Relampejar, zunir
Fuder, emocionar
Não pode censurar
Mandar prender, matar
Não pode proibir
Acorrentar, capar
O que vou lhe propor
Talvez o estopim
Talvez revolução
Ou simplesmente o fim
Como vou lhe compor
Não vai ficar assim
Se o final ficou ruim
Levante a mão e grite amor...
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O que vou relatar
Não posso suportar
Me faz sofrer e amar
Me faz calar
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2. |
Marcado de lutas
03:02
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Marcado de lutas
Minha voz é minha alma
Seja no grito, ou na calma
Nem a solidão me cala
Sou feito de lutas
Sou a terra
De quem me escuta
Sou feito de afetos
Sou a terra
Sou teu verso (feto)
Sou feito de enganos
Sou a terra
Sou teus planos
Sou feito de guerra....
Minha voz é minha arma
Seja no canto ou na fala
Nem a solidão me abala
Sou feito de lutas...
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3. |
Nada ficou
05:02
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Nada ficou
Na pedante Ipiranga gulosa de pedestres
Na face da cidade o vazio dos teus olhos
Nos cândidos bares da 7 de Abril
Teu perfume levanta do chão mal lavado, das cinzas dos copos,
das bocas que comem dejetos das latas vendidas a rodo
nos grandes mercados das avenidas da grande cidade
O gosto melado dos seus lábios fendidos
encontro nas vendas em qualquer halls de anis
Na rua direita, multidão terrorista
a cada esbarrão a aspereza da tua pele cinza
Nada ficou de nós dois
Nada restou, nem rancor
Nem saudade
Nem lágrimas
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4. |
Xangô
03:30
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Xangô
Salve quem é de guerrilha
Quem é de xangô
Das pedras de onde nasceu
Formou no peito um coração
Criança ainda fez crescer
Calos e fenda em suas mãos
Não pense que mais uma vez vai baixar a cabeça
Filha de xangô mandou avisar
Que a selva de pedra vai desmoronar
Carrega uma flor
Oxé e aripá
Sou feita de afetos, sou feita de guerras
Foi xangô
Quem chegou
Pra lutar
Pra vencer
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5. |
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A modernidade não cumpriu o seu papel
O lance agora
É garantir o desinvestimento
Eu juro, assim a gente salva a nação
De uma vez por todas
Desistir de ser moderno
tourner français ne est jamais allé illusion
Já dizia Chico Science
“O de cima sobe e o debaixo desce”
e assim a gente vai perpetuando
a lógica do patrão
Mas eu não sou patrão
Não sou
Não sou não
O lance agora
É garantir a legalização
Eu juro, assim a gente salva a nação
“Bebida, química,
nada disso ameniza
Prefiro
Ficar na brisa”
A modernidade não cumpriu o seu papel
A modernidade não
Cumpriu não
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6. |
Unhas e dentes
02:58
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Unhas e dentes
Uma velha senhora, América Latina
Mas diferente das senhoras aristocráticas
Talvez por tanto amor, talvez por tanta cor
É com unhas e dentes que defendo a raça
É com unhas e dentes que defendo a vida
É com unhas e dentes que defendo a massa
E a praça cercada de guardas...
E a pedra, o sangue, a calçada
A cena televisionada
Aquilo não era bala de borracha...
...é com unhas e dentes que defendo a vida
E cantam e choram os Arawetés
Os torturados de Guantánamo e os Apinajés
Os imigrantes do Haiti e os povos do Xingu
Enredos semelhantes de uma mesma história
O bolero e o samba, o rum e a cachaça
Fidel, Morales flutuam pelos ares
Da América inteira batida
Feita de sonhos, intrigas
Refeita a cada despedida
A benção minha mãe vou partir de novo
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7. |
Farpa / Samba de classe
05:33
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Farpa
(Renato Ribeiro)
Samba de classe
A gente precisa fazer um samba contemporâneo
Então tem que falar de depressão, esquizofrenia, medo...
Medo de gente
Medo de solidão
medo da chuva (“não não, sobre esse aí já fizeram música...”)
medo da polícia
“ah, essa sim eu tenho medo, violenta, corrupta...
A gente podia fazer um refrão assim:
eu tenho medo da polícia, eu tenho medo da polícia, ...”
“mas se for pra falar da polícia vai ter que falar da luta de classes”
“Beleza, simbora então”
Quem disse que a luta de classes
É um papo retrógrado, antigo, datado
Tá mal informado
Preste atenção na avenida paulista
O carro ao seu lado com vidro blindado
Que medo da vida
Ou medo da morte querida não sei...
Tem gente que acha que pode mudar a sociedade
Sem perder o status privilegiado
Talvez eu conheça esse tipo de gente
Soberbo, mimado
Talvez inocente
Que medo da rua
Ou medo de pobre, querido vê bem
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Quem disse que o samba morreu,
Enjoou, se vendeu, se despolitizou
Já não sabe de nada
O samba é cultura com aspas, eu sei
O samba, coitado, também é refém
Mas sem medo da mídia
Em terra de bamba quem samba é rei...
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No Brasil todo mundo é sambista
Exceto quem não é
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8. |
Cara de tanga
03:48
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Cara de Tanga
Estão se proliferando
Os homens com cara de Charles Bronson
Estão se proliferando
Os homens com perfil de Charles Bronson
Brutos, truculentos,
Membros da classe media os quais apóiam a volta da intervenção militar
Ex-roqueiros mimados em crise de identidade
Ex-roqueiros em plena insanidade
“Teu assunto principal é falar mal da vida alheia”
Eu prefiro proliferar o amor
Eu prefiro proliferar
Proliferar o amor
A mesma raça humana, a mesma espécie humana
Mas mesmo assim não me pareço em nada com você
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Eu não pareço em nada com você
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9. |
Ira
04:52
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Ira
"Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente.
Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés.
Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu.
Essa tempestade é o que chamamos progresso". (Walter Benjamin)
E a gente vai acumulando...
Vai acumulando
Gastrite, faringite, dipirona, alergia
Ciúmes, agressão, apuro, dor, hipocrisia
E haja zen budismo, hare krisnha, terapia
E haja uísque falso, ganja, pó e mescalina
A gente vai acumulando
Empréstimo bancário pra pagar a casa própria
Empréstimo bancário pra pagar a auto-escola
Empréstimo bancário pro presente de natal
Empréstimo bancário pra morrer no hospital
A gente vai acumulando
A sua Ira,
Só não desconte na pessoa errada
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10. |
Aos mestres
03:12
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Aos mestres
Você me ensina Ismael
E eu juro, lhe tenho amor,
Pode se regenerar
Você me ensina Adoniran
Saudosa maloca, maloca querida
Você me ensina Itamar
E eu transformo milagres em lágrimas
Você me ensina Macalé,
E eu aprovei
A farinha do desprezo
Alguém se intromete, sob a mesma base rítmica:
“ Opa, é proibido falar de drogas nesse disco, tem que falar de flora, amor...”
A cantora responde:
“Mas é farinha do desprezo!”
“Desprezo também não pô, desprezo não vende disco”
“É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, inaugura a ruptura da música brasileira com o conservadorismo de uma esquerda mais radical. Mas ao mesmo tempo, inicia uma nova fase de despolitização da MPB, que passa, progressivamente, a se reconhecer como... simplesmente... mercadoria!”
Mercadoria
O sobrenome do capeta – repete
Você me ensina Tom Zé
Senhor cidadão me diga porque
"O senhor anda tão triste
Não pode ter nenhum amigo
Na briga eterna do seu mundo
Tem que ferir ou ser ferido
Oh cidadão, que vida má"
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11. |
Santo Guerreiro
04:43
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Santo Guerreiro
(poema de Paulo César Pinheiro)
Não sei de onde ele veio
Mas ensinou-me bastante
Fez-me enterrar o diamante
Fez-me plantar o centeio
E ele não tinha receio
Das ordens do comandante
Varava todo quadrante
Furava todo bloqueio
Tinha uma paz no semblante
E uma coragem sem freio
No coração um anseio
De organizar o levante
Pra quem mostrava-se alheio
E ao cidadão vacilante
Ele era mais vigilante
Falava mais sem rodeio
---
Guerreiro as vezes achei-o
As vezes santo atuante
De qualquer jeito um gigante
Líder e pai de seu meio
Queria vê-lo farsante
Desmascarado em torneio
Mas tudo foi devaneio
Foi tudo um sonho distante
A delação logo veio
Depois a força volante
Toda tortura humilhante
E o cruciante passeio
E o povo inteiro diante
De sua dor e alheio
Ele que vinha do seio
Do povo que fora amante
---
Morto caiu, corpo em cheio
Mas viverá doravante
Virá seu filho adiante
Tal como um dia ele veio
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12. |
Como os pássaros
03:54
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Como os pássaros
Queria ser como os pássaros
E a cabeça nas nuvens
Mas não posso tirar os meus pés do chão e seguir adiante
Queria ser como os grilos
só cantar pras estrelas
mas não posso negar o meu sangue latino é quente
queria ser como os padres
e sofrer em segredo
mas não posso calar o baile inteiro, todo, dança
queria ser como os rios
desaguar lentamente
mas não posso conter a correnteza agora é forte
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