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Farpa

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1.
Tudo que tenho a dizer O que vou lhe dizer Pode incomodar Bulir, aborrecer Ou mesmo horrorizar O que eu vou falar Não posso prometer Que vai lhe ajudar Que vai lhe comover O que vou sussurrar Não posso soletrar Não posso oprimir O que vou lhe contar Não posso prevenir Prever, antecipar Não posso traduzir Muito menos abortar --------- O que vou lhe gritar Pode ferir, cortar Relampejar, zunir Fuder, emocionar Não pode censurar Mandar prender, matar Não pode proibir Acorrentar, capar O que vou lhe propor Talvez o estopim Talvez revolução Ou simplesmente o fim Como vou lhe compor Não vai ficar assim Se o final ficou ruim Levante a mão e grite amor... --------------- O que vou relatar Não posso suportar Me faz sofrer e amar Me faz calar
2.
Marcado de lutas Minha voz é minha alma Seja no grito, ou na calma Nem a solidão me cala Sou feito de lutas Sou a terra De quem me escuta Sou feito de afetos Sou a terra Sou teu verso (feto) Sou feito de enganos Sou a terra Sou teus planos Sou feito de guerra.... Minha voz é minha arma Seja no canto ou na fala Nem a solidão me abala Sou feito de lutas...
3.
Nada ficou 05:02
Nada ficou Na pedante Ipiranga gulosa de pedestres Na face da cidade o vazio dos teus olhos Nos cândidos bares da 7 de Abril Teu perfume levanta do chão mal lavado, das cinzas dos copos, das bocas que comem dejetos das latas vendidas a rodo nos grandes mercados das avenidas da grande cidade O gosto melado dos seus lábios fendidos encontro nas vendas em qualquer halls de anis Na rua direita, multidão terrorista a cada esbarrão a aspereza da tua pele cinza Nada ficou de nós dois Nada restou, nem rancor Nem saudade Nem lágrimas
4.
Xangô 03:30
Xangô Salve quem é de guerrilha Quem é de xangô Das pedras de onde nasceu Formou no peito um coração Criança ainda fez crescer Calos e fenda em suas mãos Não pense que mais uma vez vai baixar a cabeça Filha de xangô mandou avisar Que a selva de pedra vai desmoronar Carrega uma flor Oxé e aripá Sou feita de afetos, sou feita de guerras Foi xangô Quem chegou Pra lutar Pra vencer
5.
A modernidade não cumpriu o seu papel O lance agora É garantir o desinvestimento Eu juro, assim a gente salva a nação De uma vez por todas Desistir de ser moderno tourner français ne est jamais allé illusion Já dizia Chico Science “O de cima sobe e o debaixo desce” e assim a gente vai perpetuando a lógica do patrão Mas eu não sou patrão Não sou Não sou não O lance agora É garantir a legalização Eu juro, assim a gente salva a nação “Bebida, química, nada disso ameniza Prefiro Ficar na brisa” A modernidade não cumpriu o seu papel A modernidade não Cumpriu não
6.
Unhas e dentes Uma velha senhora, América Latina Mas diferente das senhoras aristocráticas Talvez por tanto amor, talvez por tanta cor É com unhas e dentes que defendo a raça É com unhas e dentes que defendo a vida É com unhas e dentes que defendo a massa E a praça cercada de guardas... E a pedra, o sangue, a calçada A cena televisionada Aquilo não era bala de borracha... ...é com unhas e dentes que defendo a vida E cantam e choram os Arawetés Os torturados de Guantánamo e os Apinajés Os imigrantes do Haiti e os povos do Xingu Enredos semelhantes de uma mesma história O bolero e o samba, o rum e a cachaça Fidel, Morales flutuam pelos ares Da América inteira batida Feita de sonhos, intrigas Refeita a cada despedida A benção minha mãe vou partir de novo
7.
Farpa (Renato Ribeiro) Samba de classe A gente precisa fazer um samba contemporâneo Então tem que falar de depressão, esquizofrenia, medo... Medo de gente Medo de solidão medo da chuva (“não não, sobre esse aí já fizeram música...”) medo da polícia “ah, essa sim eu tenho medo, violenta, corrupta... A gente podia fazer um refrão assim: eu tenho medo da polícia, eu tenho medo da polícia, ...” “mas se for pra falar da polícia vai ter que falar da luta de classes” “Beleza, simbora então” Quem disse que a luta de classes É um papo retrógrado, antigo, datado Tá mal informado Preste atenção na avenida paulista O carro ao seu lado com vidro blindado Que medo da vida Ou medo da morte querida não sei... Tem gente que acha que pode mudar a sociedade Sem perder o status privilegiado Talvez eu conheça esse tipo de gente Soberbo, mimado Talvez inocente Que medo da rua Ou medo de pobre, querido vê bem --- Quem disse que o samba morreu, Enjoou, se vendeu, se despolitizou Já não sabe de nada O samba é cultura com aspas, eu sei O samba, coitado, também é refém Mas sem medo da mídia Em terra de bamba quem samba é rei... --- No Brasil todo mundo é sambista Exceto quem não é
8.
Cara de Tanga Estão se proliferando Os homens com cara de Charles Bronson Estão se proliferando Os homens com perfil de Charles Bronson Brutos, truculentos, Membros da classe media os quais apóiam a volta da intervenção militar Ex-roqueiros mimados em crise de identidade Ex-roqueiros em plena insanidade “Teu assunto principal é falar mal da vida alheia” Eu prefiro proliferar o amor Eu prefiro proliferar Proliferar o amor A mesma raça humana, a mesma espécie humana Mas mesmo assim não me pareço em nada com você --- Eu não pareço em nada com você
9.
Ira 04:52
Ira "Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso". (Walter Benjamin) E a gente vai acumulando... Vai acumulando Gastrite, faringite, dipirona, alergia Ciúmes, agressão, apuro, dor, hipocrisia E haja zen budismo, hare krisnha, terapia E haja uísque falso, ganja, pó e mescalina A gente vai acumulando Empréstimo bancário pra pagar a casa própria Empréstimo bancário pra pagar a auto-escola Empréstimo bancário pro presente de natal Empréstimo bancário pra morrer no hospital A gente vai acumulando A sua Ira, Só não desconte na pessoa errada
10.
Aos mestres 03:12
Aos mestres Você me ensina Ismael E eu juro, lhe tenho amor, Pode se regenerar Você me ensina Adoniran Saudosa maloca, maloca querida Você me ensina Itamar E eu transformo milagres em lágrimas Você me ensina Macalé, E eu aprovei A farinha do desprezo Alguém se intromete, sob a mesma base rítmica: “ Opa, é proibido falar de drogas nesse disco, tem que falar de flora, amor...” A cantora responde: “Mas é farinha do desprezo!” “Desprezo também não pô, desprezo não vende disco” “É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, inaugura a ruptura da música brasileira com o conservadorismo de uma esquerda mais radical. Mas ao mesmo tempo, inicia uma nova fase de despolitização da MPB, que passa, progressivamente, a se reconhecer como... simplesmente... mercadoria!” Mercadoria O sobrenome do capeta – repete Você me ensina Tom Zé Senhor cidadão me diga porque "O senhor anda tão triste Não pode ter nenhum amigo Na briga eterna do seu mundo Tem que ferir ou ser ferido Oh cidadão, que vida má"
11.
Santo Guerreiro (poema de Paulo César Pinheiro) Não sei de onde ele veio Mas ensinou-me bastante Fez-me enterrar o diamante Fez-me plantar o centeio E ele não tinha receio Das ordens do comandante Varava todo quadrante Furava todo bloqueio Tinha uma paz no semblante E uma coragem sem freio No coração um anseio De organizar o levante Pra quem mostrava-se alheio E ao cidadão vacilante Ele era mais vigilante Falava mais sem rodeio --- Guerreiro as vezes achei-o As vezes santo atuante De qualquer jeito um gigante Líder e pai de seu meio Queria vê-lo farsante Desmascarado em torneio Mas tudo foi devaneio Foi tudo um sonho distante A delação logo veio Depois a força volante Toda tortura humilhante E o cruciante passeio E o povo inteiro diante De sua dor e alheio Ele que vinha do seio Do povo que fora amante --- Morto caiu, corpo em cheio Mas viverá doravante Virá seu filho adiante Tal como um dia ele veio
12.
Como os pássaros Queria ser como os pássaros E a cabeça nas nuvens Mas não posso tirar os meus pés do chão e seguir adiante Queria ser como os grilos só cantar pras estrelas mas não posso negar o meu sangue latino é quente queria ser como os padres e sofrer em segredo mas não posso calar o baile inteiro, todo, dança queria ser como os rios desaguar lentamente mas não posso conter a correnteza agora é forte

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"Coros apocalípticos anunciam: a modernidade não cumpriu o seu papel. Pensamentos selvagens profetizam a síncope das ideias, o ritmo fora de lugar. Fodam-se os egos individualistas, a musa-covarde errou o passo, tropeçou, caiu, quebrou a cara. A canção pede mais. Canção-petulância, canção-desassombro. Nossa voz é nossa arma, no grito ou na calma, arma-preta, arma-breve, quando explode é leve, como a morte, como os pássaros, como farpa."

credits

released April 1, 2016

Thiago Babalu - bateria;
Bjanka Vijunas - voz;
Fernanda Broggi - voz;
Rafael Noleto - voz;
Thiago Pereira - double bass;
Renato Ribeiro - guitarra/violão;
Rogério Marttins - percussão/clarinete/sample;
Michel de Moura - guitarra/voz
Lais Gouvêa - fotografia
Miguel Barros - arte
Diogo Soares - mídia

Gravado no estúdio da Mata e no Family Mob entre agosto e novembro de 2015. Mixado por Thiago Babalu e Fernando Sanches. Masterizado por Fernando Sanches no estúdio El Rocha.

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